25 de Fevereiro, 18h

MEGAFONE 6
DANÇA - DISCURSO
SUSANA DOMINGOS GASPAR feat SORAIA SIMÕES DE ANDRADE
3 euros (valor do cartão de associad_)

Conheço a obra Megafone de João Aguardela e trabalho com esse material há 20 anos. Dei aulas a crianças com os seus discos; a adultos e a profissionais das artes performativas.
Mostrei as suas canções a quase todos os amigos e descrevi-lhes a emoção que sentia quando as ouvia. Durante muito tempo desejei criar um trabalho de dança para aquele projeto, porque
o João dizia que queria pôr as pessoas a dançar e que raramente conseguia. Eu queria participar nessa vontade extraordinária.

Quando reencontrei a Soraia Simões de Andrade em Lisboa e ela me mostrou o seu espaço, começou a desenhar-se uma colaboração artística.

Megafone 6 é o 6º disco do projeto do João Aguardela, uma vez que Megafone 5 foi a associação criada pelxs companheires e amigues para preservar e divulgar este trabalho.

Acontece sob a forma de uma performance que reúne música gravada, músicos ao vivo, dança, vídeo e discurso improvisado sobre música. Não de maneira intercalada, não de maneira organizada.

Uma enchente megafónica para dentro dos estômagos do público.
Desejo que essa cheia seja a história de todos nós e alcance lugar de objeto. Um objeto que nem vocês nem eu compreendamos.

A história que nenhuma das minhas professoras francesas me conseguiram ajudar a colocar na dança que queria fazer. A história das batatas e das passas que apanhei, das nozes que os meus pais apanharam com os meus tios, das azeitonas com que ainda fazem azeite todos os anos. A história de como se magoaram uns aos outros por não saberem amar. E a história da merda da fome que passaram, da tinha que lhes roubou o cabelo e de como ainda assim o meu avô se permitiu a ser devoto de Salazar e o meu pai aceitou ir para a guerra e vir de lá estúpido que nem uma porta. Uma dança que desça da elite para o que somos na realidade.
Esta é também a história de nós: mulheres, filhas das mulheres que fizeram o 25 de Abril, netas das que sobreviveram ao fascismo, e bisnetas das que sublevaram a República.
Não há santos nem heróis na minha família. Há mulheres de uma tenacidade que me impressionou toda a vida. Essa memória permanece em todos os lugares do meu corpo.

Susana Domingos Gaspar

ESTRUTURA E APRESENTAÇÕES

Megafone 6 acontece na medida de uma performance por mês, no último sábado de cada um, (como as feiras do interior), no AH; espaço multiusos da Associação Mural Sonoro, Calçada de
Sant’Ana 169, Lisboa.

FICHA TÉCNICA

Interpretação em dança e vídeo: Susana Domingos Gaspar
Discurso ao vivo: Soraia Simões de Andrade
Música gravada: Megafone

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Susana Domingos Gaspar (1980, Torres Novas)
Licenciou-se em Dança, ramo de Espetáculo, na Escola Superior de Dança (2002), estudou Coreografia no Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística (2005) e Dança na Comunidade no Fórum Dança (2007). Pós-graduou-se em Fasciaterapia/Somatologia (2007).
Em 2014, integrou o programa de residências e mentoria do Festival de Polverigi, em Itália, com o acompanhamento de Cláudia Dias, Francesca Lattuada e Iris Karayan. Estudou com Emannuelle Huynh, em Minde. Está a fazer o Somatic Movement Education Program em Body-Mind Centering, com a Associação Movimiento Atlas, em Espanha, com o apoio da DGArtes e da GDA. Trabalhou com Né Barros, São Nunes, Madalena Vitorino, Ainhoa Vidal, Marina
Nabais, Filipa Francisco, Vera Alvelos, Aldara Bizarro. Fez assistência coreográfica de Manuela Pedroso, Costanza Givone e Sílvia Real. Coreografou “Registo” (2005), "Enleio", com o Follow up do Curso de Coreografia da Gulbenkian (2006), "As árvores ligam os pássaros à terra", com o apoio da DGArtes (2007), "Foi como se o chão a engolisse" e "O Rebusco das castanhas" (2009), “Morro onde me prendo” (2010), integrado na programação Solos para Coretos e Jardins, no âmbito da comemoração do centenário da República, “Ostinato Cantabile” (2015), "Lava" e "Ka" (2016), "Catalága", para a programação Caminhos (2017), “Classe do Jaime”, com a Bolsa de Criação Filhos do Meio, da Materiais Diversos (2018), “Coletivo Habitacional” com o apoio da GDA e da DGArtes, "À Sombra de mis cabels" para a programação Volver (2021) e As Amigas da Gaspar, com coprodução do FIMFA, Artemrede e Materiais Diversos.
Colaborou com o Teatro de Montemuro e a Amarelo Silvestre, na área do Teatro. Participou em “Arraial” de Madalena Vitorino e “Atlas” de Ana Borralho e João Galante. Desenvolve trabalho
pedagógico desde 2002 (destacando as oficinas e aulas desenvolvidas com a orientação de Madalena Victorino no CPA e na Casa Pia) e foi responsável pelo serviço educativo do Museu
Municipal Carlos Reis, entre 2015 e 2018. Desenvolveu trabalho político, sindical e associativo.
Colaborou com o movimento de luta pelo direito à Habitação e integra a Ação Cooperativista e o Coro Fernando Lopes Graça. É mãe da Leonor.

23 de Fevereiro, 18h

ZETHO CUNHA GONÇALVES

Leitura de poemas de "Exorcismos para ler em voz alta" e conversa com o público sobre experiências, preconceitos e mistificações da feitiçaria africana, assim como a sua essência poético-filosófica com o poeta Zetho Cunha Gonçalves.

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