©José Fernandes 2023. Acúleo.

[…] Na pauta vê-se pouco do que convém.

Depois do Outono alguém limpará ritos mudos.

Os arranjos afinal não se arranjam sozinhos,

nem as gavetas, as caixas de música,

os vivos cadáveres refugiados.


Todas as anástrofes do mundo são cretinas

porque houvesse memória em nós do instinto teu

a guerra seria fruto não comestível,

caducos os misantropos, os intransigentes,

essas fundamentalistas mnemónicas.


Moogs no fundo da noite pior oscilaram

reverberam no grés, a polir ditongos solertes

despontaram sons conhecidos pelo pilar das lembranças,

porventura restituídos em grutas suspeitas

ribombadas lágrimas frescas à monofobia. […]ª


Acúleo

derivado do espículo, irmão do aguilhão, distingue-se dos espinhos caulinares por ser mutável, fácil de extrair, de se metamorfosear.

Primeira performance (I) de spoken word com gravação fonográfica integrante de uma trilogia (III).

Com actuações ao longo de 2023 no microFIAR - Festival Internacional de Artes de Rua, Snob, AMOSTRA - Escola Superior de Teatro e Cinema, AH! (espaço de criação do colectivo associação Mural Sonoro) estará, no próximo dia 18 de Novembro, pelas 21h30m, no espaço cultural Liquidâmbar, Praça da República, Coimbra.

Em Acúleo sondam-se memórias familiares de origens geográficas distintas.

Performance marcada por recriações mnemónicas que passam pela vivência em período-contexto de extrema ruralização, a experiência citadina britânica e a lisboeta. Quase cinematicamente, deambula por várias encarnações: a redescoberta da pulsão da morte e a libido, a velhice, a decrepitude, a guerra, a religião, e, particularmente, o desaparecimento físico de pessoas próximas.

Entre indícios que apontam para a sensibilidade com o imaginário da Sturm und Drang em cenário contemporâneo, o abissal e o fantasmagórico, encontraremos a consciência aguda das desigualdades sociais, do direito à opacidade e da importância de reescrevermos a única coisa que herdámos, a nossa história, antes de contarmos outras?

Durante a performance Acúleo serão lançados breves apontamentos da performance II (Profecia) a apresentar em 2024 com convidad@s.


Acúleo

18 de Novembro, espaço cultural Liquidâmbar, Praça República 28, 1°, 3000-250 Coimbra


Texto e interpretação: Soraia Simões de Andrade

Música: João Diogo Zagalo

Músicos: Gonçalo Zagalo Pereira, João Diogo Zagalo

Fotografia: José Fernandes

apoio à produção artística/conceito: AH! associação Mural Sonoro

colaborações e agradecimentos: Xana, Fernando Ramalho, Paula V Marques, Elagabal Aurelius Keiser, Nuno Miguel, António Pires, Paulo Lourenço, Ar de Estúdio, Leonor Alves, Alexandre Nobre.


ª Soraia Simões de Andrade (texto), Xana (interpretação) in Profecia (performance-gravação II para 2024)

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