[1] por Rui Almeida


Não é raiva e por mais
Que tentes não consegues
Evitar a diagonal
Sugerida pelo antebraço. Não é
Grito ou excesso a firmeza

Da dicção; nem loucura
Esse olhar de desafio pronto
A dissolver-se numa frase
Mais romântica, mais
Reveladora da doçura da juventude

Ociosa, pronto a esboçar um sorriso
Aos homens de dentes podres que passam
Por vadios. Por menos que isso
Baudelaire amaldiçoou
A fotografia, a falsidade da imagem

Fiel, Narciso banalizado. Não é raiva,
Mas pudor, limpeza – gratidão
Diante da elegância de um mundo sujo
Que se repete. («Love me
tender, love me sweet»). Já sei,

Nada aqui é especial
Ou merece o incómodo
De uma oração. Não é galope nem salto;
É riso misturado com a vontade
Da revoada dos despertares marítimos.

[1] Poeta.

Fotografia do autor de Ana Amaral.

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