90ª Recolha de Entrevista
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BI: Eugénia Melo e Castro é uma intérprete e compositora portuguesa nascida na Covilhã no ano de 1958.
Filha dos escritores E. M. de Melo e Castro e de Maria Alberta Menéres, cedo conviveu com poesia e, através das frequentes idas do pai ao Brasil e os discos que trazia, com o trabalho de inúmeros músicos brasileiros, alguns dos quais com quem curiosamente mais tarde, quando se profissionaliza na música, acabaria por trabalhar.
Conta nesta recolha de entrevista maior realizada em Junho deste ano, da qual disponibilizamos um excerto de cerca de cinquenta minutos no acervo online, que não só o seu pai como José Nuno Martins, primeiramente através de um programa de rádio da sua autoria, foram determinantes para o conhecimento e desenvolvimento do seu gosto por determinados repertórios e compositores-intérpretes, relembra que frequentou a London Film School, estudando cinema, e que entre os anos de 1977 e 1978 foi acumulando experiências como actriz de teatro, com o grupo Ânima (que fundou e onde desenvolveu trabalhos de poesia experimental encenada) e com o grupo de Teatro A Barraca. No cinema participou em filmes de Joaquim Leitão e Djalma Limonge Batista. Na televisão, como autora e produtora musical, compositora e apresentadora Eugénia deixaria também a sua marca ao receber no programa o mais vasto naipe de protagonistas da Música Popular.
Da sua tentativa como realizadora de cinema, fotógrafa (fotografaria profissionalmente o escritor Gabriel Garcia Marques quando estudava na A.R.C.O.) aos convites para fazer filmes como actriz, passando pelo grupo de Teatro de Poesia Experimental que ajudaria a fundar, Eugénia circulou nos mais diversos espaços do domínio artístico.
Curiosa e com uma forte vontade que chamaria a atenção de diversos autores.
A partir da década de 1980, período em que começa a intensificar as suas parcerias, do ponto de vista autoral e vocal, com alguns dos mais consolidados músicos e autores brasileiros, como Tom Jobim, Chico Buarque, Simone, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Eugénia rasga e aproxima as fronteiras, do ponto de vista cultural e musical, entre Portugal-Brasil e assume-se como uma das figuras que nos anos de 1980 mais intercâmbio entre estes dois países possibilitou, assim como se vai afirmando no panorama musical brasileiro, muito embora a sua ''residência base'' fosse até hoje Portugal, como o denota o seu legado fonográfico todo gravado no seu país de origem.
Entre um conjunto de outros aspectos desvendados nesta conversa, explica algumas das histórias que foram envolvendo as suas relações não só com a gravação de discos em Portugal, o estúdio, os técnicos e empresários, como as mudanças a que mais tarde assistiu nesse meio: dos músicos que desempenhavam esse papel aos empresários que passaram a liderar as trocas de experiências e difusão entre autores e músicos.
No ano de 2007 Eugénia Melo e Castro seria distinguida com o prémio Qualidade Brasil pelo conjunto da sua obra musical, integralmente lançada no Brasil. E no ano de 2008 o seu programa de televisão Atlântico foi considerado um dos 50 melhores programas de sempre de televisão em Portugal, ocupando o 23º lugar. No ano de 2009 seria premiada como Dama da Ordem do Infante D. Henrique.
O seu relacionamento com a composição musical e a escrita de canções foi ganhando força ao longo dos anos, nesta recolha explica a importância de alguns dos compositores que admirava e com quem, fruto de grande persistência sua, passou a trabalhar e trocar ideias, as relações nem sempre pacíficas com as etiquetas que suportavam as obras musicais, as ânsias e aspirações que foi travando ao longo da sua afirmação no seio da cultura popular não só em Portugal como no Brasil, etc.
Do seu legado fonográfico fazem parte os seguintes trabalhos: Terra de Mel (LP, Polygram, 1982), Águas de Todo O Ano (LP, Polygram, 1983), Eugénia Melo e Castro III (LP, Polygram, 1986), Coração Imprevisto (LP, EMI, 1988), Canções e Momentos (Compilação, Polygram, 1989), Amor é Cego e Vê (LP, Polygram, 1990), Lisboa Dentro de Mim (CD, BMG, 1993), O Melhor de Eugénia Melo e Castro (Compilação, Polygram, 1993), Canta Vinicíus de Moraes (CD, Megadiscos/Som Livre, 1994), Eugénia Melo e Castro Ao Vivo Em São Paulo (CD, Som Livre, 1996), Eugénia Melo e Castro Canta Vinicíus de Moraes (CD, Sony, 2000), Ao Vivo Em São Paulo (CD, Som Livre, 2000), A Luz do Meu Caminho (CD, MVM, 2000), Eugénia Melo e Castro.com - Duetos (Compilação, Eldorado, 2001) - Brasil, Recomeço (CD, Som Livre, 2001), Dança da LUZ - EDP - 2004 (CD), Motor da Luz (CD, Som Livre, 2001), "PAZ" - CD- Som Livre - 2004 // Universal - 2007, "DESCONSTRUÇÃO" - (2004) Duplo CD - 2007 - Universal, "POPORTUGAL" - CD - Universal - 2007, "DUETOS x 16 - CD - Atração / Brazilmusica 2009, as colectâneas: A música em Pessoa (1985) - Emissário De Um Rei Desconhecido, Bocage - O Triunfo do Amor (1998) - Liberdade, Songbook Chico Buarque (1999) - Tanto Mar (c/ Wagner Tiso), O melhor de Eugénia Melo e Castro - Universal 2004 e participações nos fonogramas de Sérgio Godinho - Pano Cru, Jorge Palma - Até já, Júlio Pereira - "Lisboémia" e "Fernandinho vai ao vinho", Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Fausto - "A Preto e Branco" e "Histórias de Viajeiros", Carlos Lyra - Carioca de algema, Sérgio Basbaum - Tanto Mais ou Fábio Tagliaferri - Pela manhã.
À data em que esta recolha foi realizada Eugénia Melo e Castro encontrava-se no processo de finalização de um CD infantil, baseado no livro "Conversas Com Versos" da sua mãe.
© 2014 Eugénia Melo e Castro à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo
Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões
Fotografia: Rodrigo Souza
Recolha efectuada em LARGO Residências