Viewing entries in
Arquivo Mural Sonoro 1

Há sempre qualquer coisa que está para acontecer... ZMB maior que a música

Comment

Há sempre qualquer coisa que está para acontecer... ZMB maior que a música


[1] por Soraia Simões de Andrade

José Mário Branco (JMB) teve a sua primeira infância numa aldeia de pescadores, perto do Porto, que «hoje é uma cidade grande, que é Leça da Palmeira», dizia-me num dos nossos primeiros encontros em sua casa, parte do seu conteúdo ficou disponível uns meses mais tarde na Mural Sonoro1.

Entre 2011 e 2013, JMB não cedia praticamente entrevistas, foi por intermédio de amigos em comum que a consegui fazer em sua casa. Sem que esperasse revelou-se o início de uma amizade/consideração mútuos: trocas frequentes de emails, sugestões de leituras, entre outros.

«Agora toda a gente quer falar comigo, olha os jornalistas é porque lá vem a Troika e fiz uma cantiga chamada FMI, não tenho nada para dizer, muitos deles nem nunca ouviram o FMI», «(...) já não vou para cima de um palco cantar com um lírio e um canivete (...) fiz aquelas canções porque estava a viver aquilo (...) o FMI é uma catarse», este seu desconforto em 2012, que se foi dissipando nos últimos anos da sua existência, ficou-me gravado até hoje.

Lembro que no nosso primeiro encontro falámos de teatro, da Comuna, da Manuela de Freitas (sua companheira, que mais tarde convidei para um outro debate sob o tema literaturas para fado2), dos filhos e dos netos, da neta cabo-verdiana ainda pequena, mostrou fotografias, mostrei-lhe também de um dos meus sobrinhos, cabo-verdiano, a viver em Santiago, do entusiasmo que o filme Mudar de Vida (parto longo, veio à luz após um crowdfunding) lhe estava a originar, «tens de ver isto!», aconselhava-me.

Foram essas longas horas, registadas na memória até à sua partida hoje, que me ajudaram a perceber o homem que tinha na minha frente, e que já admirava.

Desde 2012 que fomos trocando várias mensagens: sobre música e sobre política, esteve presente no ciclo de debates que organizei no Museu Nacional da Música3, enviava-me artigos que achava que poderiam ser interessantes para eu ler, sobre Alan Lomax, sobre o Benelux nos anos sessenta e setenta, sobre música dodecafónica e música concreta, muitas ideias acerca daquele que tinha como seu mestre, Luís Monteiro, crucial na sua aprendizagem da etnomusicologia. Um dia liguei-lhe a dizer que ia ao Porto conhecer Luís Monteiro, o seu professor, que ele ainda era vivo, ficou emocionado. Fizemos um texto de homenagem a Luís Monteiro, de quem ele entretanto tinha perdido o rasto até à minha ida ao norte, escrito a vários mãos: as do José Mário, da Ana Deus (vizinha do Luís Monteiro, que proporcionou esta minha visita), do Jorge Constante Pereira.

A última vez que falei presencialmente com JMB no Galeto, Avenidas Novas, um encontro imprevisto há cerca de um ano, perguntou-me: «tens tido notícias do Luís Monteiro? Está velho, tenho de o visitar». Não sei se o chegou a fazer. Mas, lembro que ficou radioso desde o momento em que soube que o “seu mestre” ainda era vivo e lhe pudemos prestar a homenagem numas breves linhas4 publicadas na Mural Sonoro.

©®fotografias arquivos de familiares de JMB: cedidas por António Miguel Branco Rodrigues para projectos da Mural Sonoro relacionados com a vida e obra de José Mário Branco/JMB.

©®fotografias arquivos de familiares de JMB: cedidas por António Miguel Branco Rodrigues para projectos da Mural Sonoro relacionados com a vida e obra de José Mário Branco/JMB.


O JMB era um defensor da liberdade. Julgo que a sua força crescia quanto maior era o interesse pelos assuntos e pelas pessoas. Sinto-me uma privilegiada por o ter conhecido e privado consigo.

O pai de JMB era um amante de música, tinha feito o curso do seminário e ensinava-o, a ele e aos dois irmãos, a cantar a vozes. Fazia os baixos e eles as outras três vozes.

JMB estudou piano em Leça da Palmeira e tinha uma paixão grande pelo violino. Como os pais, professores primários, não tinham possibilidades, foram os padrinhos, pessoas abastadas da cidade do Porto, que lhe compraram o violino e lhe pagaram aulas no Conservatório. O professor, um francês, primeiro violino da Sinfónica do Porto, liderava também o Quarteto de Cordas, mas deu-lhe cabo da paixão pelo violino em poucos meses.

JMB ia aos sábados de manhã, quando não havia liceu, ao Conservatório ter aulas particulares de violino e «a única coisa que ele me ensinava era a pegar no violino e no arco com proibição de produzir qualquer som, e eu ficava ali uma hora de pé numa sala, com o professor à minha frente, a puxar-me pelo cotovelo e a corrigir-me os dedos no arco, pousar o arco nas cordas, mas proibido de tocar, primeiro ano era só para aprender a pegar no violino e isso matou definitivamente a paixão que eu tinha pelo violino, foi um assassinato».

Depois destes percalços, a música ficou de lado e iniciou uma paixão grande pela poesia, que é retomada quando abre a Escola Parnaso no Porto, já JMB tinha dezasseis anos. Foi aí, com Jorge Constante Pereira, Ricardo Sousa Lima, Nina Constante Pereira, na altura namorada de JMB, que o seu envolvimento político e cultural se intensificaram, estas tertúlias intersectavam vários mundos e olhares: da literatura à música popular. O seu contacto com as músicas contemporâneas, a música dodecafónica, a música concrecta, a música electrónica, e com a etnomusicologia, através de Luís Monteiro, traduzir-se-iam em sessões apaixonantes que o vieram mais tarde a moldar como músico e compositor.

Quando chegou a fase em que ia ser defrontado com a Guerra Colonial, havia já uma politização através do exemplo de amigos mais velhos que andavam na universidade, dentro do movimento estudantil universitário, JMB ficou ligado ao primeiro grupo que no Porto tentou formar associações de estudantes nos liceus, de nome Pró Associação. Se nas universidades, do Porto, Coimbra e Lisboa, as associações de estudantes eram toleradas no liceal eram mesmo proibidas.

JMB fazia parte de um grupo de jovens, rapazes e raparigas, por um lado muito sensibilizados para a resistência à ditadura, resistência à censura, por outro lado para uma ligação também desse grupo à poesia e à música no estilo da tertúlia, no contacto com poetas mais velhos, muitos deles/as neo-realistas do Porto, como Brigitte Gonçalves, António Rebordão Navarro, Eugénio de Andrade ou António Reis, que depois se tornou cineasta.

JMB e o grupo de jovens a que pertencia escreviam poemas, participavam no suplemento juvenil do Diário de Lisboa que era orientado por dois escritores, um casal de esquerda, aí publicavam poemas, desenhos, como os de Manuela Bacelar, hoje uma pintora reconhecida, recensões críticas. Este suplemento acabou a ser proibido pela censura e passou a ser publicado no jornal República.

Através de familiares e das dinâmicas intrínsecas à movimentação deste grupo de jovens havia relações com a Academia de Amadores de Música e o seu coro, dirigido por Fernando Lopes-Graça, com o próprio Lopes-Graça.

Um dos elementos deste grupo de jovens era Margarida Losa, filha de Ilse e de Arménio Losa, JMB assistiu à chegada, em casa de Ilse Losa, de Lopes-Graça com o primeiro disco prova de fábrica da Antologia de Trás-Os-Montes, recolhas de Giacometti seleccionadas por ele. «E o gesto do Graça de colocar o disco prova no toca-discos e da gente ouvir aquilo com as lágrimas nos olhos e pensarmos: como é que é possível nós termos estes tesouros no nosso país e ninguém os conhecer?».

Nas férias da Páscoa, JMB e os/as companheiros/as iam em grupo percorrer as terras do Alto Minho a pé ou, numa segunda fase, iam para o Alentejo, do Porto para o Alentejo, para a aldeia de Peroguarda, no meio do triângulo Beja-Ferreira-Cuba, para os ouvir cantar e falar. Os primeiros a ir foram presos pela PIDE. Era estranho um grupo de jovens no meio dos alentejanos, de repente: «a fazer o quê, para quê?», mas «a gente ia só para os ouvir cantar e falar».

Em 1961, JMB tinha dezanove anos. Estava, como muitos dos outros companheiros, ligado ao Partido Comunista, porque «era a única organização onde a gente podia fazer qualquer coisa a sério correndo todos os riscos inerentes, que no meu caso por exemplo levou à prisão pela PIDE em 1962, não é? A discussão sobre ir ou não ir participar na guerra colonial».

Uma época marcada pelo Concílio Vaticano II, pela Revolução Cubana, pela Guerra na Argélia, assuntos que faziam parte das discussões nestas tertúlias.

Como militante do partido comunista português JMB recebeu a directiva de ir para a guerra, «porque era a linha do partido na altura, achando que era na frente de guerra que o militante comunista poderia fazer o seu trabalho».

Nem JMB nem os restantes acreditavam, ou nada ou muito pouco, que isso fosse possível de acordo com os muitos relatos que vinham dos franceses, da Guerra da Argélia, onde a posição do Partido Comunista francês foi a mesma.

Foram, aliás, as discussões com integrantes do movimento estudantil francês, que ajudaram à sua própria posição, que culminou na recusa em participar na Guerra Colonial.

©®fotografias arquivos de familiares de JMB: cedidas por António Miguel Branco Rodrigues para projectos da Mural Sonoro relacionados com a vida e obra de José Mário Branco/JMB.

©®fotografias arquivos de familiares de JMB: cedidas por António Miguel Branco Rodrigues para projectos da Mural Sonoro relacionados com a vida e obra de José Mário Branco/JMB.

Depois de ter estado preso pela PIDE em 1962, poucos dias antes de receber o postal de mobilização para a tropa em 1963, JMB aproveitou os dias que lhe restavam de validade de um antigo passaporte para fugir do país. Foram treze anos de vida em Paris. Regressou a trinta de Abril de 1974, cinco dias depois do 25 de Abril, no mesmo avião onde vinham, entre outros, Álvaro Cunhal e Luís Cília.

 

Vou andando por terras de França

pela viela da esperança

sempre de mudança

tirando o meu salário

 

Enquanto o fidalgo enche a pança

o Zé Povinho não descansa

Há sempre uma França

Brasil do operário

 

Não foi por vontade nem por gosto

que deixei a minha terra

Entre a uva e o mosto

fica sempre tudo neste pé

 

Vamos indo por terras de França

nossa miragem de abastança

sempre de mudança

roendo a nossa grade

 

Quando vai o gado prà matança

ao cabo da boa-esperança

Bolas prà bonança

e viva a tempestade

Não foi por vontade nem por gosto …

 

Vamos indo por terras de França

com a pobreza na lembrança

sempre de mudança

com olhos espantados

Canta o galo e a governança

a tesourinha e a finança

e os cães de faiança

ladrando a finados

Não foi por vontade nem por gosto …

Vamos indo por terras de França

trocando a sorte pela chança

sempre de mudança

suando o pé de meia

Com a alocação e a segurança

com sindicato e com vacança

Há sempre uma França

Numa folha de peia

Não foi por vontade nem por gosto…

No início dos anos setenta Paris era a segunda cidade de Portugal, «só em França, imagina, éramos oitenta mil desertores e refractários para um país de nove/dez milhões de habitantes».

Foi em França que, além de procurar a sobrevivência (chegou a trabalhar numa fábrica de mármores) participou activamente em lutas políticas, em núcleos políticos, cujos objectivos eram ao mesmo tempo a discussão sobre o que fazer em relação a Portugal: luta armada ou não luta armada contra a ditadura portuguesa, «tomar partido pela China ou partido pela União Soviética, e a questão da divulgação e da denúncia da ditadura portuguesa e da guerra colonial pela europa fora».

A emigração portuguesa em França, como na Suíça, na Alemanha, nos países escandinavos ou no Benelux, que até aí fora uma emigração quase exclusivamente da pobreza, como ficou retratado no filme Le Saut de Christian Challonge cuja música é da autoria de Luís Cília (também entrevistado na Mural Sonoro), ou seja uma emigração económica, mudou, com a ida de dezenas de milhares de jovens universitários contra a guerra.

Estes jovens, segundo JMB, começaram a aderir às associações de migrantes em Paris, que até aí serviam só para o rancho folclórico ou para a missa, contribuindo para uma politização de uma boa parte das mesmas.

JMB, Luís Cília e Tino Flores que também viviam em Paris, ou Sérgio Godinho, que começou a viver em Paris a partir de 1967, que interpretavam canções ora que denunciavam a situação em Portugal ora que rasgavam as fronteiras para a comunidade, começaram a dar concertos pela Europa do norte sobretudo, sempre a cantar para associações. O disco de JMB A Ronda do Soldadinho foi um resultado disso mesmo, por ser um disco feito propositadamente na ilegalidade, financiado com pré-compras do movimento associativo.

 

 Um e dois e três

Era uma vez

Um soldadinho

De chumbo não era

Como era

O soldadinho

 

Um menino lindo

Que nasceu

Num roseiral

O menino lindo

Não nasceu

P'ra fazer mal

 

Menino cresceu

Já foi à escola

De sacola

 

Um e dois e três

Já sabe ler

Sabe contar

 

Menino cresceu

Já aprendeu

A trabalhar

Vai gado guardar

Já vai lavrar

E semear

 

Um e dois e três

Era uma vez

Um soldadinho

De chumbo não era

Como era

O soldadinho

 

Como JMB não tinha dinheiro para produzir o fonograma e a canção tinha-se entretanto tornado muito popular dentro da emigração portuguesa, mas também no seio da esquerda francesa, inquiriu: «há este disco para fazer, era importante fazer este disco, vocês acham? E eles disseram ‘achamos’, e eu disse ‘então, quantos exemplares é que querem comprar’? E confiam-me o dinheiro antes de ver os discos ou não’?». Recebeu o dinheiro de compras antecipadas de exemplares do disco e foi com esse dinheiro que o fonograma foi produzido, com uma tiragem reduzida. O seu percurso em França, a paulatina fragmentação das estruturas políticas de extrema-esquerda a partir de 1965, e o facto de um primo da sua mulher se ter esquecido de uma viola no apartamento por onde passou em Paris fizeram com que passasse a ter uma ligação a esse instrumento que anteriormente nem conhecia e com ele começasse a compor muito do repertório deste período. O piano, a flauta de bísel, o acordeão de teclado eram os instrumentos que sabia, até à data, tocar.

Encordoou a viola deixada no apartamento, faltavam-lhe cordas, e de ouvido começou a aprender a acompanhar-se a cantar canções, foi aí que colocou pela primeira vez a hipótese de se poder exprimir através deste meio, o da música, e deste instrumento.

JMB foi ao longo da sua trajectória bastante crítico relativamente a terminologias como «movimento dos baladeiros» ou «canção de intervenção», considerava-as pejorativas e redutoras. Isto porque já gostava de outras tipologias de canções como a canção poética francesa, canções brasileiras, canções anglo-saxónicas. Ambas, porque, em boa medida, estiveram associadas sobretudo «a uma grande pobreza musical das canções. Eram aquelas pessoas que se faziam acompanhar de uma viola, sabiam dois ou três acordes, que faziam tudo igual e muitas das vezes contra a própria mensagem da poesia. Exclude disto completamente o Zeca Afonso, porque o Zeca Afonso era um caso absolutamente à parte, e que continua a ser, de grande riqueza poética e musical e sobretudo interpretativa, mas o que veio na esteira do Zeca foi esse ''movimento dos baladeiros'' que até leva depois o Raul Solnado a fazer um sketch a ridicularizá-los, não é? Mas, há excepções. A ‘Pedra Filosofal’ do Manuel Freire é uma cantiga que foi uma viragem histórica pelas circunstâncias em que foi conhecida e que tem, digamos, qualidade poética e musical».

Seria, no entanto, por via da forte influência francesa, de uma música engagée, adjectivo aplicado às canções poéticas francesas do pós-guerra, que JMB começou por se fazer ouvir, mas nas canções ‘’comprometidas com realidades sociais” que lhe foram primeiramente referenciais estiveram também nesta fase canções brasileiras como as de Dorival Caymmi, ou aquelas que existiram fruto de um ressurgimento da canção política italiana, um país onde houve guerra e houve bastante resistência, e do contexto anglo-saxónico.

Depois de Abril de 1974, quando regressou a Portugal, fundou o Grupo de Acção Cultural Vozes na Luta (GAC), com o qual ainda gravaria uma primeira série de singles e Eps, depois reunidos no LP A Cantiga é uma Arma, JMB participaria no disco posterior Pois Canté!, o melhor disco, quanto a mim, do GAC.

Em Paris no ano anterior ao 25 de Abril já estava em gestação um grupo cuja ideia era fazer «música proibida, música ilegal, música de resistência, música subterrânea. Eu tinha tido uma cooperativa em que participei com amigos franceses chamada Organum já mais experiências de auto-edição de coisas marginais, completamente marginais, e que eram financiadas fora do sistema», o GAC esteve portanto muitos anos antes do seu surgimento em gestação.

O Grupo de Acção Cultural, como começou por se definir primeiramente, acabou dividido mais ou menos em função das diferenças políticas que havia na esquerda portuguesa. Uns do PCP, outros LUAR. No primeiro GAC, definido como de extrema-esquerda maoísta, estiveram JMB, Fausto, Tino Flores, na altura os jovens que vieram do Coro da Juventude Musical e do Instituto Gregoriano, alguns mais tarde integrariam o grupo Gaiteiros de Lisboa, como Rui Vaz, Carlos Guerreiro ou Pedro Casaes. Para JMB foram especialmente pessoas como Luís Pedro Faro que vieram a dar uma maior solidez artística aquele grupo de ''pós-baladeiros''.

Ser SolidárioMargem de Certa ManeiraA Noite e o emblemático FMI, a entrada para a Comuna em 1977/78, para fazer A Mãe que também daria origem a um LP, as cisões da Comuna no fim de Janeiro de 1979, que levaram José Mário Branco e Manuela de Freitas a formarem um novo grupo de nome Teatro do Mundo, onde produziu uma série de canções que surtiriam no projecto «Ser Solidário», curiosamente recusado por todas as editoras, «foi recusado por todas as editoras, na maioria dos casos por eu querer incluir o FMI, ficaram todos assustados, o Tozé Brito por exemplo respondeu-me por escrito que já lá tinham um Sérgio Godinho na Polygram e que era a mesma coisa. Mas, foi recusado por todas as editoras. Valentim de Carvalho, Polygram, a que depois se chamou Sony, todas», firmaram JMB como um autor de referência não só sob o ponto de vista musical como cultural e social.

O grupo Teatro do Mundo levou à cena o concerto «Ser Solidário», uma vez mais JMB convidou o público a pré-financiar a existência do disco. Foi assim que o disco foi feito. A etiqueta comercial (Edisom) é efectivamente posterior, editora de Zé da Ponte e de Guilherme Inês que aceitaram editá-lo fazendo ao lado um maxi-single do «FMI», já com tudo pago e gravado. Em 1980 e 1981 os concertos estavam esgotados.

É inegável que JMB conseguiu uma almofada de público «para este tipo de canções, que está muito a cavalo entre esse fenómeno de que tu falas digamos que da marginalidade de certos cantores, e depois o outro fenómeno que é uma coisa muito forte que ficou do PREC, que é: a identificação política, não é?», mas JMB foi muito mais do que este período da canção, foi/é/será para mim inquestionavelmente um homem com uma cultura musical abrangente, o melhor arranjador de Música Popular, um compositor de ‘’novos fados’’ singular, como o provam, entre outros, os trabalhos discográficos com a sua mão, os seus ouvidos, a sua sensibilidade para Camané. Deixou-nos um dos autores mais interessantes dos séculos vinte e vinte e um, no seu percurso cabem todos os textos e homenagens.

Obrigada Zé Mário!

Notas:

Dossier 303: José Mário Branco, a voz da inquietação

1 História oral Mural Sonoro, entrevista a José Mário Branco: www.muralsonoro.com.

2 Novas literaturas para Fado com José Luís Gordo e Manuela de Freitas, Muralha Alfama, ciclo Conversas à volta da Guitarra portuguesa, org: Soraia Simões de Andrade: www.muralsonoro.com.

3  «Música e Sociedade», Museu Nacional da Música, org Soraia Simões de Andrade: www.muralsonoro.com.

4 Por falar em Luís Monteiro: www.muralsonoro.com.

©®fotografias arquivos de familiares de JMB: cedidas por António Miguel Branco Rodrigues para projectos da Mural Sonoro relacionados com a vida e obra de José Mário Branco/JMB.






Comment

Kabeção (músico professor, ''handpan'': construtor, tocador)

Comment

Kabeção (músico professor, ''handpan'': construtor, tocador)

57ª Recolha de Entrevista

Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00020 Europeana Sounds

BI: Carlos Rodrigues, ou Kabeção como é conhecido no meio musical, nasceu em Lisboa no ano de 1989.

É um músico e formador com experiência com os mais diversos tipos de instrumentos de percussão, como darbuca, cuica ou hang (handpan). Em 2006 fundou o seu primeiro projecto com o nome de "Tribolados", juntamente com Joana Gomes e Hugo Franganito. Em 2010 estudou na Escola de Música JB jazz em Lisboa, onde aprendeu e desenvolveu a cultura e a teoria musical.

Nesta recolha de entrevista o músico entre outros assuntos fala da descoberta do 'handpan' em 2008 e de algumas das características do mesmo, da introdução e aceitação do mesmo no ensino (através das aulas que dá), da experiência e gosto em tocar na rua que sempre teve e permanece, da importância da acústica e espaço sonoro para o seu desempenho com este instrumento em particular, da importância do registo fonográfico com este instrumento no seu percurso musical, ou do papel do público e dos Festivais para a difusão, aproximação e aceitação do mesmo.

Desde de 2006 que Carlos Rodrigues já partilhou palco com músicos e grupos musicais de diversos universos dentro da música popular, como: Kumpania Algazarra, Roncos Do Diabo, Katharsis, Farra Fanfarra, Winga (Blasted Mechanism), Puntzkapuntz, Sebastião Antunes, Didge n'Bass, Rizumik, Terra Livre, No Joke Soundsystem, El Gadzé, Richie Campbell, Green Echo e artistas internacionais mundialmente conhecidos como Wild Marmalade , Drubravko Lapaine, Iban Nikolai e Sidy Sissokho.

Desde que conheceu o instrumento que dá pelo nome Hang, em 2008, pelas mãos de Ortal Pelleg que tocava nas ruas de Lisboa, tem explorado os mais variados registos rítmicos e melódicos deste instrumento.

Até à aquisição do primeiro Handpan (também chamado 'Disco Armónico' vindo de Itália feito por Marco Della Ratt) e apreensão dos métodos para o construir e afinar gravou o seu primeiro EP a solo"High Awakening Natural Gain'' em Inglaterra no estúdio de Mário Figueiredo.

Carlos está ligado à execução e evolução de uma série de instrumentos, alguns já referidos outros evocados durante o registo desta conversa para o Arquivo Mural Sonoro, como Bateria, Tablas, Hang, Didgeridoo, Darbuca, Cuica, Daf, Cajon, Bansuri, Sansula, Metalofone, Taças Tibetanas, tem também sido construtor de Handpans ("GuruzPan") e de Didgeridoos (utilizando na construção os mesmos materiais, como Piteira/Avenca).

© 2013 Carlos Rodrigues (Kabeção) à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo

Edição, Pesquisa, Som, Texto: Soraia Simões

Recolha de Entrevista e Musical em LARGO Residências

Comment

João Sousa (Oleiro/Construtor de Instrumentos em Barro)

Comment

João Sousa (Oleiro/Construtor de Instrumentos em Barro)

56ª Recolha de Entrevista

                                                                                                                                    Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00019 Europeana Sounds

BI: João Sousa nasceu no ano de 1974 em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique.

É um Oleiro português, que estudou em Coimbra alguma da arte da Cerâmica e Olaria e mais tarde com um 'mestre chinês' a confecção de ocarinas em barro.

Dos primeiros objectos construídos com barro (com um fim decorativo e seguindo os métodos tradicionais) passou para a construção dos mais diversos instrumentos de percussão (como membranofones: adufes em barro por exemplo), cordas ou sopros e foi evoluindo na construção dos mesmos.

No momento em que esta recolha é efectuada (em Março de 2013) João Sousa dedica-se exclusivamente ao desenvolvimento das práticas em prol da construção dos instrumentos explorando, com a ajuda de músicos e investigadores, as mais variadas técnicas para tirar diferentes sons e até melodias dos instrumentos que desenvolve.

Nesta recolha é crítico em relação às dinâmicas em Portugal que incentivem a prática e difusão da Olaria nacional e sente-se como o único no presente com essa papel dentro de uma arte considerada 'saloia' e em que há pouco investimento ou disponibilidade por parte dos poderes locais, explica também as diferentes formas de produzir alguns dos instrumentos que constrói, como tem chegado ao público, nomeadamente autores/compositores/músicos (embora também o cinema e performance tenha já recorrido a este género de instrumentos musicais que elabora para introduzir nas suas criações/apresentações performativas e de espectáculo), etc.

© 2013 João Sousa à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo

Edição, Pesquisa, Som, Texto: Soraia Simões
Recolha Efectuada em Areeiro (Atelier 'Red Clay' de João Sousa

Fotografias: Augusto Fernandes

 

joao 5.jpg

Comment

Milton Gulli (Philharmonic Weed, Cool Hipnoise, Cacique' 97)

Comment

Milton Gulli (Philharmonic Weed, Cool Hipnoise, Cacique' 97)

15ª Recolha de Entrevista

Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00018 Europeana Sounds

BI: Milton Gulli nasceu em Lisboa no ano de 1978. É um autor, músico, compositor e produtor português filho de moçambicanos, que reside actualmente em Moçambique (Maputo).

Criou e integrou os Philharmonic Weed, foi vocalista convidado do grupo Cool Hipnoise, que diz ter sido a sua "universidade na música", trabalhou com vários rappers portugueses e é uma das forças motriz do grupo Cacique' 97. Criou, além disso, com um grupo de intervenientes na música, uma espécie de Colectivo Artístico/Associação Cultural ligado aos grupos musicais lisboetas, com o nome Grasspoppers. O Colectivo produziu, fez reportagens, pequenos filmes que acompanhavam os músicos com os quais trabalhavam e propôs-se a compor e gravar numa semana um álbum de 'dub' com algumas das músicas mais conhecidas, e conseguiu-o.

Nesta recolha de entrevista reflexiona sobre a diferença entre o público moçambicano e o português - o apreço ou reconhecimento do público de Moçambique, contrariamente ao português, para com os músicos não lhes é incutido por mediações como a rádio ou os media - os interesses dos órgãos de comunicação e difusão, a recepção musical com os seus consumidores, a persistência do músico perante variáveis que nem sempre lhe são favoráveis, a tentativa de reencontrar as raízes e outros círculos de interacção com a sua música, etc.

© 2013 Milton Gulli à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo

Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões

Fotografia: Hugo Valverde no âmbito do Ciclo «África Move» de Mural Sonoro integrado no Festival Escrita na Paisagem em Évora no ano de 2012

Nota de autora:

O tema ‘Kodé’, do fonograma Karam de Kimi Djabaté (ver 14ª recolha), foi composto por Milton Gulli e gravado pelos Cacique´97, incluindo-se depois a kora do músico Brahima Galissa e a voz e balafon de Kimi Djabaté.
Além do disco Karam de Kimi Djabaté, o tema acabou por figurar no disco de Cacique´97.

Milton explica à parte desta recolha que: o tema foi composto por mim para o primeiro disco de Cacique´97. Na altura eu tinha escrito uma letra que pedi a um amigo guineense para traduzir. Mas, quando chamámos o Kimi para cantar, a letra não encaixava no tema. O Kimi acabou, então, por sugerir outra letra, que acabou por ficar.

Entretanto, eu peguei na letra do Kimi e traduzi algumas frases para 'chuabo' (língua da zona de Quelimane), com a preciosa ajuda da minha avó, e é essa parte que eu canto no tema.

Comment

Marta Miranda (OqueStrada)

Comment

Marta Miranda (OqueStrada)

32ª Recolha de Entrevista

                                                                                                                                     Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00017 Europeana Sounds

BI: Marta Miranda ou ‘Marta e Miranda’ como a conhecem no projecto musical que ajudou a formar (OqueStrada) nasceu em Lisboa no ano de 1972, mas cedo se habituou a ser uma migrante no seu país, devido à profissão liberal da sua mãe (professora) pelos vários espaços onde ia sendo destacada para trabalhar.

‘Como digo muitas vezes a Marta trabalha para a Miranda poder cantar’ refere aludindo também, durante a recolha, à forma como no grupo OqueStrada acaba por se fazer de tudo. Da montagem à produção, da distribuição dos pagamentos ao agenciamento, da música, composição e performance à construção de cenários e instrumentos particulares (como o caso da ‘contrabacia’ tocada por Pablo).

No grupo de que faz parte a todos atribuiu um nome fictício (‘Lima o Arquitecto’, e a sua guitarra portuguesa, ‘Pablo, O Construtor’, e a sua contrabacia ‘Miranda, a Adorável’, e a sua voz)

Nesta recolha Marta reflexiona, entre outros aspectos, sobre os primeiros anos de concepção do seu trabalho e do trabalho com oqueStrada, dos locais distintos (ruas, cafés, bares, jardins, lojas numa procura do património acústico dos espaços) onde tocaram das primeiras vezes e da importância do espaço público comum (a rua) e do contacto directo com o público, das migrações com que sempre se rodeou (no seio familiar, com o seu avô, oriundo de Angola, e social, com as comunidades e culturas a que se ligou tanto em Lisboa como no subúrbio onde se sediou), da dramaturgia acústica e das imagens sonoras que resgatou do teatro popular para a música que cria (m), do diálogo/ intercâmbio musical construído por cada músico em OqueStrada e desse com os ‘artistas esquecidos’ que convidam para os espectáculos que dão, da importância de pensar a cidade/o urbanismo através da periferia, do seu radicar em Almada e da ressonância do espaço com a criação artística e musical, da pesquisa relevante/ recolha de material e histórias acerca das colectividades para a concepção musical de OqueStrada (a Associação de Artes de Rua, a Piajio associação, possui um forte olhar e consciência sobre o espaço público e do que ele oferece de encontro e reflexão no âmbito artístico), da concentração da actividade da Piajio no espaço Incrível Club – antigo cinema da colectividade Incrível Almadense (um ‘espaço de artistas para artistas’ como define Marta em conversa. De acolhimento à arte e à promoção artística, onde a música, o ‘novo-circo’ ou o documentário sempre tiveram destaque) – e de a mudança na falta de apoio/financiamentos às diversas manifestações culturais e artísticas da actualidade poder ser, aos poucos, ultrapassada com uma filosofia próxima dos espaços geográficos pequenos onde se opera – de um modo autónomo, individual, atento e empreendedor.

© 2013 Marta e Miranda à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo

recolha efectuada em Alfama

Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões

Fotografia do áudio: Paulo Machado, A Muralha Alfama

Fotografia de capa: Augusto Fernandes no âmbito do Ciclo de Debates e Colóquios  Mural Sonoro no Museu da Música em 2013 com o tema: «Viver a Música a Partir da Periferia (?)» que contou com Marta Miranda, o rapper e sociólogo Chullage (Nuno Santos) e António Avelar Pinho (Banda do Casaco, Filarmónica Fraude)

Comment

Mário João Santos (TocáRufar, músico, baterista/percussionista)

Comment

Mário João Santos (TocáRufar, músico, baterista/percussionista)

66ª Recolha de Entrevista

 

Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00016 Europeana Sounds

BI: Mário João Santos nasceu em Lisboa no ano de 1970. É um músico e formador português (especialmente baterista-percussionista).

Neste registo de conversa fala do seu percurso, do despertar para as percussões, mas também das suas formações musicais, no Hot Clube de Portugal, Academia dos Amadores de Música de Lisboa e Drummers Collective em Nova Iorque, da importância que atribui aos tambores e de algumas das tarefas, que com este fascínio, tem executado, etc.
Leccionou bateria na Escola de Música de Cascais. Como baterista e percussionista (com instrumentos de percussão vários) colaborou com diversos músicos e compositores portugueses, Quadrilha, Carlos Barretto, José Mário Branco, Fausto Bordalo Dias, Três Cantos, Rui Júnior e o Ó que som tem?, Boémia, Navegante entre outros, é co-fundador do projecto TOCÁ RUFAR, sobre o qual expressa nesta recolha as horas de dedicação que tem conferido ao projecto e a sua relevância no universo musical popular em Portugal e não só, e membro da direcção. 
Como músico, no seu legado fonográfico (discos em que foi convidado/parte integrante), até à data em que a recolha é feita constam: com Fausto Bordalo Dias - Atrás dos tempos vêm tempos (1996), Grande grande é a viagem (ao vivo) (1999), 18 canções de amor e mais uma de ressentido protesto (2007), Em Busca das Montanhas Azuis (2011), Três Cantos ao vivo (2009) -com José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto Bordalo Dias, com Rui Júnior e O ò que som tem?:O mundo não quer acabar (1998), com Carlos Barretto Suite da Terra (1998), com Navegante: Cantigas Partindo-se (1987), com Quadrilha Contos de Fragas e Pragas, 1992, Até o Diabo de Ria, Entre Luas, 1997, Madrigal, Ovação 1999, com Mário Mata: Sinais do tempo SPA 2012.

© 2013 Mário João Santos à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo


Recolha efectuada em casa de Mário joão Santos, em Lisboa

Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões

Fotografia: Augusto Fernandes

Comment

Manuel Rocha (Conservatório de Coimbra)

Comment

Manuel Rocha (Conservatório de Coimbra)

59ª Recolha de Entrevista

 

Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00015 Europeana Sounds

BI: Manuel Rocha nasceu na cidade de Coimbra no ano de 1962, onde acabou por frequentar aulas de violino, instrumento cuja aprendizagem aprofundaria posteriormente - em 1982 - quando se fixa por seis anos em Moscovo para a sua formação em Professor de Violino e Músico de Orquestra.

É integrante, e uma das forças motrizes, do grupo Brigada Victor Jara e do GEFAC e foi um participante activo no Movimento Alfa em torno das Campanhas de Alfabetização no ano de 1975.

Quando regressou da URSS passou a dar aulas de violino no Conservatório de Música de Coimbra, no qual é hoje Director. Manuel Rocha trabalhou ainda como músico e compositor em bandas sonoras para teatro, cinema e televisão, foi Autor de um Documentário no âmbito etnográfico seriado para a RTP e colaborou em gravações com intérpretes como, entre outros, Adriano Correia de Oliveira, Mísia e Carlos do Carmo ou autores distintos como Fausto ou Manuel Freire.

Nesta recolha de entrevista é crítico em relação ao modo como a música popular tem sido 'tratada' - no meio social, cultural, mas também académico - e elucida algumas das suas experiências e opiniões em torno de questões valorativas de algumas das práticas musicais (com os instrumentos e conhecimentos empíricos ou vivências que os acompanham) no âmbito da ''música tradicional'' mas igualmente excessivamente desenquadradas do seu habitat/meio em que crescem e se desenvolvem, bem como relativamente a uma ideia de um hipotético e irreal ''universo de autenticidade'' em que se baseia algum do estudo académico, mas reflecte, entre outras coisas ao longo da conversa, ainda sobre algumas assumpções inculcadas no meio intelectual que várias vezes impõe no seio ''da ruralidade'' metodologias ou formas de raciocínio e comunicação que não são as suas, nem tão pouco alvo das suas preocupações ou motivos de discussão.

A proximidade entre o universo da música popular e a ''erudição'', os discursos que grosso modo nelas se patenteiam e as separam, as tentativas de aproximação da academia e a legitimação fornecida pelo contacto e vivência, a música funcional (de trabalho, de embalar, religiosa, de festa) e o retirar de algumas das suas funções quando é levada para os palcos, etc.

Manuel Rocha mantém o exercício crítico e atento sobre as questões que nortearam o registo desta conversa e assume, ao longo da mesma, a actividade cívico, sindical e política como uma parte imprescindível no seu percurso musical, quer como músico e autor, quer como formador.

© 2013 Manuel Rocha à conversa com Soraia Simões, Reflexões e Perspectivas no campo

Som, Pesquisa, Edição, Texto: Soraia Simões

Fotografia: António Freire

Recolha efectuada em Conservatório de Música de Coimbra

Comment

Maria João Magno (Tigelafone)

Comment

Maria João Magno (Tigelafone)

54ª Recolha de Entrevista e de som de tigelafone

 

Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00014 Europeana Sounds

BI: Maria João Magno de Morais Silva nasceu em Lisboa, mas cedo se mudou para a Guarda, por razões profissionais do pai.

Aprendeu acordeão, piano, ainda em miúda na Guarda com um professor invisual e mais tarde estudou no Conservatório de Música e licenciou-se em Ciências Musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1991-1995), onde fez também a Pós-licenciatura no Ramo de Formação Educacional, em Ciências Musicais (2001-2003).

Nesta recolha, Maria João Magno explica um pouco do seu percurso como música profissional, dos diversos cursos e acções de formação no âmbito da Música e da Educação, da descoberta das tigelas e do timbre que elas produziam e do ‘tigelafone’ (que acabou por instituir em Portugal, ver em área Recepção Musical de Mural Sonoro texto de Maria João Magno sobre o ‘tigelafone’), etc.

Ao vivo, a autora integrou diversos projectos de música, poesia e pintura em simultâneo. Tem-se apresentado com música de sua autoria em piano-solo, em Portugal (1984-2011). Integrou o espectáculo poético-musical No Feminino, em Português como compositora, intérprete e na direcção musical do mesmo (1997-2001).
Maria João Magno foi compositora e intérprete em Gestos, um espectáculo de sua autoria, que integra voz, piano, instrumentos musicais construídos a partir de materiais reutilizáveis e o Tigelafone (2001-2006). Participou em diversas gravações como música.

Recentemente Maria João integrou a equipa da Divisão de Educação Artística, na Direcção Geral do Ministério da Educação e Ciência – Lisboa. Actualmente lecciona disciplinas da Música, pesquisa na área do Tigelafone e continua a compor e a actuar em recitais/espectáculos musicais.

© 2013 Maria João Magno à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo
Recolha efectuada em Anjos (Lisboa)

Edição, Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões

Fotografia de Augusto Fernandes no âmbito do Ciclo de Debates e Colóquios Mural Sonoro no Museu da Música sob o tema «Música Popular, Ensino e Experimentação» com Maria João Magno e Victor Palma

 

Comment

Sebastião Antunes (músico, compositor Quadrilha)

Comment

Sebastião Antunes (músico, compositor Quadrilha)

3ª Recolha de Entrevista

 

                                                                                                                                    Only with permission

Rights reserved - Free access

Quota MS_00013 Europeana Sounds

 

BI: Sebastião Antunes é um músico e compositor que nasceu no ano de 1967 em Castelo Branco.

Nesta recolha de entrevista fala do início do seu percurso, que aconteceria no ano de 1988, com a edição do single «Caixinha de Música» do grupo Peace Makers, das referências que tinha na década de 1980, do grupo que em 1991, formou, por influência/sugestão de José Mário Branco que insistiu que deveriam optar por um nome em português, com o nome Quadrinha já com vários discos editados, mas expressa também a sua análise sobre algumas das dinâmicas que respeito dizem às relações de paridade entre música e sociedade, música e política, assim como entre conceitos mutáveis como o de «tradição».

Do legado discográfico de Sebastião Antunes, até à data em que esta recolha é efectuada, fazem parte: Caixinha de Música (Single, MBP, 1988), Sónia/Menina de Fato Negro (Single, MBP, 1989) com o grupo Peacemakers, Contos de Fragas e Pragas (1992), Até o Diabo Se Ria (1995), Entre Luas (1997), Quarto Crescente (1999), A Cor da Vontade (2003), Ao Vivo - Deixa que Aconteça (2006) com o grupo Quadrilha.

O músico é também pós-graduado em Estudos de Música Popular, pelo Departamento de Ciências Musicais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Em Maio de 2013 Sebastião Antunes seria com José Mário Branco interveniente nos Ciclos de Debates e Colóquios Mural Sonoro no Museu da Música sob o tema: «Música e Sociedade».

© 2013 Sebastião Antunes à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo
Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões
Fotografia: José Eduardo Real (no âmbito do Ciclo «África Move» em 2012 de Mural Sonoro no Festival Escrita na Paisagem em Évora)
Recolha efectuada em LARGO Residências

Comment

João Pratas (músico, tocador: gaita de foles, cavaquinho, viola, adufe)

Comment

João Pratas (músico, tocador: gaita de foles, cavaquinho, viola, adufe)

45ª Recolha de Entrevista e de instrumentos musicais

Quota MS_00012 Europeana Sounds

 

BI: João Pratas é um músico, que toca diversos instrumentos (cordofones, aerofones, membranofones), nascido na cidade de Coimbra, actualmente a residir em Aveiro.

Desde a infância que manteve um contacto muito presente com alguns desses instrumentos, especialmente através de algumas festas religiosas que iam acontecendo em Fala e São Martinho do Bispo (áreas periféricas da cidade de Coimbra onde viveu até se mudar para Aveiro), mas é sobretudo no ano em que termina a sua licenciatura em Educação Visual que o gosto e prática mais frequente desses instrumentos se intensifica. Hoje, faz parte dos grupos Roncos&Curiscos e Sabão Macaco.
Nesta recolha de entrevista, efectuada na área onde viveu durante a aprendizagem/crescimento destas práticas musicais, explica um pouco do seu gosto e ingresso no universo da música popular de 'matriz tradicional', das suas referências iniciais, dos tocadores com que cresceu e do que estes lhe ensinaram, da evolução e interesse manifestado, por mais pessoas/músicos, relativamente a alguns dos instrumentos evocados na conversa, das principais diferenças (no que concerne, especialmente, ao ensino e divulgação do ensino da gaita-de-fole, mas não só) entre o circuito de tocadores na Galiza e em Portugal, etc.
Nesta recolha, o músico executa um tema (sem nome) com viola acústica e dois temas com flauta de cana: 'Verde Gaio Ti Roque' ( um Verde Gaio do Ti Roque porque o aprendeu com Ti Roque, gaiteiro de Torres Vedras) e 'Corridinho Pastor' (um 'corridinho popular', mas também presente nas recolhas de Michel Giacometti. O nome é o de uma versão que ouviu, do mesmo 'corridinho', pelo grupo Mare Nostrum.

nota de autora: Nesta conversa João Pratas alude aos “Zés-pereiras”, que são conjuntos instrumentais de importância notável no nosso país, sobretudo devido à sonoridade dos instrumentos de percussão. Bastante populares no Minho, embora também existam noutras regiões portuguesas. Normalmente fazem parte das romarias, cortejos, festas e procissões. Estes conjuntos instrumentais podem ser constituídos por: gaita-de-foles, caixa e bombo e têm diversas vezes um grande número de tocadores.

 

2012 João Pratas à conversa com Soraia Simões de Andrade, Perspectivas e Reflexões no Campo

Nota: No ano de 2013 João Pratas passou a ser parte integrante do grupo mirandês Galandum Galundaina.

Som, Pesquisa, Edição, Texto: Soraia Simões de Andrade

Fotografia: Sandra Rodrigues

Comment

Kula (percussionista, formador, construtor)

Comment

Kula (percussionista, formador, construtor)

47ª Recolha de Entrevista e de instrumentos musicais

 

Quota MS_00011 Europeana Sounds

BI: Fortunato Silva, mais conhecido por Kula (nome que escolheu aos 18, após uma experiência comunitária, que implicava um rebaptismo da identidade), nasceu em Cabo Verde, mas veio cedo para Portugal e nunca chegou a conhecer (voltar) efectivamente o país de onde é oriundo. É um músico, facilitador, formador e construtor de 43 anos.
Viajou muito em busca da ‘sua paixão', de um caminho que lhe apontasse uma espécie de ''raíz ancestra'' (diz) e não tanto geográfica/'de onde veio’. Esteve na Alemanha, Holanda (Amesterdão) e viveu em Tábua (perto de Coimbra), mas foi em Amesterdão que se cruzou com ‘o instrumento que lhe mudou a vida’: o djembé.

Nesta recolha diz, entre outras coisas, que é ‘em África que começa toda a experiência humana’, ao longo dos anos Kula foi fundador e integrante do primeiro ensemble de percussão tradicional africana em Portugal, viveu em várias comunidades que procuravam uma alternativa à vivência e caminhos que a sociedade vigente ia apontando e reflexiona sobre essas experiências ( 'a música foi roubada às pessoas pela indústria de consumo’ diz), mas questiona ainda alguns dos modos de abordagem social, humana, artística e pedagógica da actualidade, etc.

Hoje constrói, na sua oficina-estúdio em Colares (Sintra) onde vive, muitos dos instrumentos que toca (korás, mbiras, dununs, djembés, etc), tocou ao longo dos últimos vinte e cinco anos com variadíssimos músicos de África Continental, etc.

 

© 2013 Kula à conversa com Soraia Simões de Andrade, Perspectivas e Reflexões no Campo

Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões de Andrade
Recolha efectuada em Colares na casa de Kula
Fotos de Mara Lisboa

Comment

'Cachupa Psicadélica' (músico, compositor)

Comment

'Cachupa Psicadélica' (músico, compositor)

49ª Recolha de Entrevista

 

Quota MS_0009 Europeana Sounds

 

BI: Lula's* é um músico e compositor mindelense que vive actualmente na Amadora.

Esteve durante algum tempo a viver nas Caldas da Rainha, onde estudou design multimédia, e foi aí que se cruzou com outros autores que o aproximariam ainda mais da música, que já compunha em Cabo Verde.

Nesta recolha, entre outros pontos/abordagens, reflecte sobre a sociedade cabo-verdiana em que cresceu, do 'novo homem cabo-verdiano' (longe da sociedade machista, com problemas de alcoolismo, com que conviveu na infância), que procura tornar-se a cada dia que passa e que reproduz na música que vai criando, acerca das suas referências, sobre a relevância ou não de cantar na língua cabo-verdiana (o crioulo), nos grupos musicais onde transitou, etc.

© 2013 Lula´s à conversa com Soraia Simões de Andrade, Perspectivas e Reflexões no Campo

Edição, Pesquisa, Texto, Som sem edição: Soraia Simões de Andrade
Recolha efectuada em LARGO Residências
fotografias:  Daniel Abrantes

* Nota: Em 2014 o músico adoptou o nome de Cachupa Psicadélica para o seu projecto e tem-se apresentado sob esta designação. 

Comment

Ruca Rebordão (músico: percussionista, formador)

Comment

Ruca Rebordão (músico: percussionista, formador)

21ª Recolha de Entrevista

 

                                                                                                                           

Quota MS_0008 Europeana Sounds

 

BI: Ruca Rebordão é um músico, produtor, formador nascido em Angola no ano de 1962.

Emigrou para o Brasil em 1974, na década de 80 veio para Portugal, passou algum tempo por Austrália, e regressou a Portugal, onde actualmente vive (especificamente no Alentejo).

O seu fascínio e contacto inicial com instrumentos de percussão (os tambores) acontecia em Angola e desenvolver-se-ia na sua ida para o Brasil, na escola de Samba Imperatriz Leopoldinense do Rio de Janeiro.

Estudou na Academia Amadores de Música de Lisboa e Universidade de Sydney, no Departamento de Música do Mundo.

No percurso musical - músicos com quem tem tocado, estabelecido parcerias, coabitado em projectos semelhantes - contam-se, entre outros, Rão Kyao,Teresa Salgueiro, Couple Coffee, Madredeus, Sadao Watanabe, Toquinho, Alejandro Sans, Paulo de Carvalho, Ivan Lins, Paulo Bragança, Rosana, Martinho da Vila, Fafá de Belém, J.P. Simões, Tommy Campbell, Steve Thornton, Mike Ryan, Jane Butler, Sérgio Godinho, Vitorino, Filipa Pais, Lúcia Moniz, Janita Salomé, George Witty, Moonspell ou Mafalda Sacchetti.

O seu caminho conta ainda com mais de 90 discos em que participou e com uma quantidade de distintos espectáculos pelo mundo, como, em exemplo (e sem ordem cronológica): uma tour no Japão com Sadao Watanabe em 2003, o South Africa Tour, com Sadao Watanabe (incluindo a participação no North Sea Jazz, Festival na Cidade do Cabo no ano de 2004), uma tournée em várias cidades de Itália, também em 2004, durante 15 dias, a celebração do Buddhist Temple (em Outubro de 2002) em Nara num concerto com Sadao Watanabe, concertos na televisão japonesa (NHK) e Tokyo FM em Julho e Agosto de 2002, a abertura da World Soccer Championship no Japão em Maio de 2002, uma tour pela Europa em Novembro de 2001, uma tour pela Ásia, com Sadao Watanabe, passando no mês de Outubro de 2001 por Taiwan, Hong Kong, Singapura, Malásia, a participação no Jazz and World Music Festival, em Outubro de 2000, o Japan Summer Tour em Julho também do ano 2000, o Blue Note Tokyo (4 concertos em Junho de 2000), o Kirin the Club Festival emTokyo no mês de Junho do ano de 1999, o Concerto Especial de Natal com Sadao Watanabe na NHK TV em 1998 (Tokyo), etc.

Sem esquecer que, em Portugal, Ruca conta com o seu trabalho/participação musical em ocasiões diversas como: Cerimónia de Abertura da RDP Africa, Cerimónia de Eunice Muñoz, Festival Direitos Humanos das Nações Unidas, Participação no CD Red Hot Lisboa, EXPO 98, Concerto com General D, concerto de A Fúria Açúcar (de 1992 a 2005 integrou o grupo) no Centro Cultural de Belém, Festival da cidade de Évora, etc.

Percussionista de Madredeus e banda Cósmica – de 2008 a 2010 – (com 3 fonogramas gravados e um DVD no Teatro Ibérico), em "La Serena" com Teresa Salgueiro Lusitânia Ensemble, nos concertos em Portugal, de 2006, com Paulo de Carvalho e Ivan Lins, com Rão Kyao desde 2003 (que lhe permitiu a presença em concertos por diversos locais, até agora, como Itália, Brasil, Angola, Marrocos, França, Espanha, Portugal e Cabo Verde), integrante da banda de Paulo de Carvalho desde 2005, na tournée com Martinho da Vila no ano de 2000 (em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro), convidado de Moonspell no Coliseu em Lisboa (2000) ou participação em Tocarufar de/com Rui Junior, é já um Mural considerável de espaços geográficos, esferas musicais e intervenientes no âmbito com que Ruca Rebordão se tem cruzado. Nesta recolha de entrevista fala de alguns deles, mas expressa também a escassez de apoios estatais ou comprometimento com a música popular (com ligação à diáspora e de um modo geral) no ensino e no espaço público, do seu crescente interesse pelas percussões (que podia estar uma vida inteira a descobrir e tocar como reforça nesta conversa), das referências que as passagens por vários locais - com várias gentes e especificidades musicais distintas - lhe trouxeram, do estar em Portugal com olhos no/para o mundo e, entre outras ideias patenteadas na recolha, da importância do atentar as raízes transmitindo-as aos mais (e menos) jovens através da sua recriação.

© 2012 Ruca Rebordão à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo

Edição, Pesquisa, Texto, Som sem edição: Soraia Simões de Andrade

Fotografia de recolha: Soraia Simões de Andrade

Recolha efectuada em Lisboa

Comment

Marta Portugal Dias (Bailarina. Práticas Romenas Ciganas e Repertórios)

Marta Portugal Dias (Bailarina. Práticas Romenas Ciganas e Repertórios)

33ª Recolha de Entrevista

 

Quota MS_0007 Europeana Sounds

BI: Marta Portugal Dias nasceu em 1981 em Lisboa. É uma bailarina, coreógrafa e pesquisadora de danças romenas ciganas.

Licenciada em Dança (Criação e Interpretação) pela Escola Superior de Dança de Lisboa no ano de 2010, iniciou a os seus estudos como autodidata dez anos antes.

Interessada pela dança do Médio Oriente, viajou por vários países, como a Turquia e Marrocos.

Na Roménia, actuou no Festival Tábor Cygánifolklór. Aprendeu romeno e viajou várias vezes para a Roménia. Estudou Roman Havasi (dança cigana turca) em Istambul, com Reyhan Tuzus, e Dança Cigana russa, com Pétia Lourtchenko, em Lisboa e Paris.

Nesta recolha fala do início da sua aprendizagem em dança cigana, em diversos festivais e junto de várias comunidades ciganas da Roménia, da experiência que foi viver na casa da família de um dos membros da famosa banda romena Taraf de Haidouks, das diferenças coreográficas, instrumentais e de repertórios nas variadas comunidades ciganas que conheceu e de qual dessas comunidades, com que conviveu na Roménia, está em maior número em Portugal (nomeadamente na cidade de Lisboa), da importância de uma maior abertura programática no Festival Todos (Caminhada de Culturas), que ocorre sobretudo em Lisboa (entre as zonas do Intendente e Poço dos Negros), na falta de incentivos para a difusão de práticas coreográficas e performativas regulares com este cariz em palcos, ou no Conservatório de Dança ou Escola Superior de Dança, fundamentalmente por ainda serem, por cá, uma novidade, de alguns dos workshops que dá e de algumas características comportamentais da comunidade cigana ligada à música e às artes performativas e de espectáculo, e da comunidade portuguesa no geral, etc.

© 2012 Marta Portugal Dias à conversa com Soraia Simões de Andrade, Perspectivas e Reflexões no Campo

Edição, Pesquisa, Texto, Som sem edição: Soraia Simões de Andrade

Fotografia: Mónica Roncon
 

 

Braima Galissá (Korá)

Comment

Braima Galissá (Korá)

44ª Recolha de Entrevista e instrumentos: korá e voz

 

                                                                                                                       

Quota MS_0006 Europeana Sounds

BI: José Braima Galissá nasceu em 1964 em Gabú (Leste da Guiné-Bissau, capital do antigo império de Gabú de onde é oriundo o próprio nome). É músico e tocador de korá.

Foi compositor do Ballet Nacional da Guiné-Bissau, responsável Instrumental do mini Ballet Nacional e professor de Korá na Escola Nacional de Música José Carlos Schwarz durante 11 anos. Já participou em actividades culturais em vários países.

Fez três viagens a Portugal, mas fixou-se numa altura em que eclodia a Guerra Civil (1998), sobretudo pelos projectos culturais para os quais passou a ser solicitado.

Filho de um tocador de Korá nascido na Guiné-Bissau, no seio de uma família mandinga (uma das etnias do país). O seu nome advém de uma família de "djidius" que tocam Korá (além dos Galissa há os Djabaté, Kouyaté, os Sissokhos e outros apelidos).

Em 1999 trabalhou com o Teatro São João do Porto e no ano em que Coimbra foi a capital da cultura, foi contratado pela a companhia de teatro Teatrão.

Realizou concertos com o músico português Gil Nave, participou em programas de rádio e televisão (Antena 2, RTP Internacional, Rádio Renascença, RTA - Rádio Televisão de Angola, no programa Kandando - e RDP África, entre outros), participou em concertos realizados por iniciativa da EXPO98, e Porto 2001, e em trabalhos discográficos de João Afonso, Amélia Muge, Herménio Meno, na colectânea "Mon na mon", Blasted Mechanism, Chac, Sara Tavares entre tantos outros.
Galissá  é mentor do grupo Bela Nafa (que significa 'Benefício Comum').

Nesta recolha de entrevista, além da captação de voz e korá de Galissá, o músico alude à sua infância e ao facto de ter aprendido o instrumento Korá com 5 anos de idade pela mão do seu pai na sua região natal (Gabú), de ter, em meados de 1979, iniciado o seu percurso musical (primeiramente com os pioneiros "Abel Djassi"), de ter acesso à escola e com eles participar em acampamentos da juventude na Guiné e pelo mundo fora, dos eventos realizados em intercâmbios culturais com jovens de Cabo-Verde, Senegal, Guiné-Conacri, Portugal e outros países europeus, da sua ida para Bissau onde começou a estudar música, da sua participação no FITEI  e na antiga FIL (em 1998 e 1999 respectivamente), da relevância da cultura mandiga (e outras) pelo mundo e particularmente na Europa, dos projectos de teatro onde colaborou, de conferências que tem dado a alunos na área de especialização em Etnomusicologia, mas também, entre outras ideias patenteadas na conversa, de alguns dos concertos que tem  feito pelo país e de cursos em que se envolveu com alunos da Escola Superior de Educação de Lisboa e da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa sobre 'música e literatura africana' ou 'cultura guineense'.

© 2012 Braima Galissá à conversa com Soraia Simões de Andrade, Perspectivas e Reflexões no Campo

Edição, Pesquisa, Texto: Soraia SImões de Andrade
Captação de instrumentos (voz e korá): Nuno Santos

Fotografias: Augusto Fernandes

 

recolhas efectuadas em Residência Artística do Intendente (LARGO Residências)

kora 2.jpg
galissa 2.jpg

Comment

Nataniel Melo (percussionista, integrante do grupo Terrakota)

Comment

Nataniel Melo (percussionista, integrante do grupo Terrakota)

27ª recolha de entrevista

Quota MS_0004 Europeana Sounds

 

BI: Nataniel Melo nasceu no Porto no ano de 1976.

É um músico e autor português filho de pai açoriano e mãe transmontana, que vive em Lisboa há 14 anos.

Começou por tocar com apenas 14/15 anos teclas num grupo de rock, incentivado por um amigo, e ainda nesse início de percurso, através das referências musicais que gravitavam pelo grupo, se sentiu mais atraído, que os restantes músicos que o acompanhavam nesse seu início, pelos instrumentos de percussão e recorda Santana (atenta ao lembrar o despoletar do gosto por outro género de ritmos e instrumentos que os produziam).

Começou a sua viagem física muito cedo - e com ela a pessoal/existencial que já o inquietava no Porto - quando foi três meses para Cuba, onde se rodeou de alguns elementos culturais, próximos de África, que lhe despertaram ainda mais a sua relação com as construções rítmicas que já o cativavam, com os tambores batá, a oralidade e música associada ao culto religioso, mas também géneros como a salsa, etc.

Faz parte do grupo Terrakota (um grupo expressivo que reuniu não só músicos de outros países - como Angola, Itália, Portugal, etc - como um conjunto de manifestações culturais na sua música expressas pelas performances e instrumentos que acompanham a história do grupo, como: djambés, congas, darbuka, batà, repenique, didjeridoo, sabar, tama, balafon) e nos últimos 10 anos (naquele que designa como o 'período de Inverno' do grupo Terrakota e que vai de Dezembro a Março) viajou e fez recolhas de instrumentos, manifestações culturais e musicais em países como Senegal (onde já esteve cerca de 8 vezes), Guiné, Cuba, etc.

Esteve para ingressar no curso de Antropologia Musical (ligada aos Estudos Africanos) em Inglaterra, mas coincidiu com o ano em que se cruzou com os restantes elementos do grupo Terrakota, onde optou por ficar.

Nos últimos 14 anos, em que se radicou em Lisboa, mas com viagens anuais a outros pontos do mundo, como os já mencionados, não deixou de fazer trabalho de campo com ligação à diáspora e ao conhecimento que tem absorvido. Fez e faz Documentários baseados nas suas recolhas e utiliza-os no serviço comunitário na zona de Lisboa em que vive, sobretudo.

Nesta recolha de entrevista fala da falta de capacidade local (na cidade de Lisboa) para sustentar obras de cariz comunitário, social e cultural apesar da aparente 'multiculturalidade' lisboeta que diz até 'traiçoeira', do seu operar ser feito, apesar das contrariedades e dificuldades que o meio em que vive lhe apresenta, de um modo individual activo (nas oficinas de instrumentos com materiais reciclados que já criou, nas aulas de sabar e percussão que agiliza apesar da falta de incentivos autárquicos, etc), acredita que a viagem fornece ao indivíduo actuante neste âmbito um enriquecimento que um mundo de acesso tecnológico, aparentemente mais facilitador a essa pesquisa, jamais trará e reflecte sobre a importância em o sítio migratório que é Lisboa, no qual desenvolve o seu trabalho, estar atento, receptivo e participativo ao enriquecimento que só um conhecimento mais próximo das várias culturas que o formam e nele permanecem há um tempo vital (com as suas músicas, 'tradições' e performances) poderá possibilitar que tal aconteça.

© 2012 Nataniel Melo à conversa com Soraia Simões de Andrade, Perspectivas e Reflexões no Campo

Recolha efectuada em Lisboa na casa de Nataniel

Comment

Kimi Djabaté (tocador de balafon e construtor)

Comment

Kimi Djabaté (tocador de balafon e construtor)

14ª Recolha de Entrevista

 

Only with permission

Quota MS_0002 Europeana Sounds

BI: Kimi Djabaté nasceu na aldeia de Tabato, Guiné-Bissau, em 1975. É um músico que reside desde 1995 em Lisboa.

Desde os 3 anos que toca, muitas vezes porque os pais o incitavam a isso, chegou a tocar para a Corte (um Rei) e em casamentos de ‘realeza’ e desde a adolescência que fez viagens, acompanhado sobretudo de músicos mais velhos, sempre a tocar.

A sua primeira gravação musical aconteceu na Guiné em 1989, com ‘Balafon de Tabato’(em alusão à aldeia onde nasceu) e do qual também o seu pai fez parte.

Toca e constrói os intrumentos vários que toca (balafons, koras, tamas, etc) desde que se conhece. “Um bom tocador tem de saber construir o seu instrumento”, reflecte.

Oriundo de uma família ligada à música, onde teve a possibilidade de desde cedo receber formação na área da ‘música tradicional mandinga’, foi evoluindo como músico junto de outros com quem acabou por colaborar, caso de músicos como Mory Kanté, Waldemar Bastos, Netos de Gumbé, entre outros.

Sempre cantou na sua língua originária e em conversa comigo diz: “a integração do migrante cabe ao próprio migrante”, sem se anular a si mesmo.

Em 2005, lançou o seu primeiro álbum a solo, ‘Teriké’ e em 2009 ‘Karam’.

Nesta recolha reflecte sobre a sua forte ligação com a herança da ‘música tradicional griot’, que teve o seu berço na região ocidental de África, a ‘música tradicional Mandinga’, com que cresceu, e potenciou o seu interesse por outras práticas coreográficas (como a dança local 'gumbé') e musicais (como o 'afrobeat', a 'morna' ou os 'jazz' e 'blues'), os instrumentos, os músicos com que se tem rodeado, as dificuldades de aceitação do seu primeiro fonograma em Portugal, o circuito musical em que opera em Portugal e os países onde já tocou - Senegal, Mali, Costa do Marfim, França, etc - o aspecto biográfico de um disco como ‘Karam’, as vantagens e dificuldades em chegar a um público cantando no seu dialecto e, entre outros assuntos, a vontade de regressar à Guiné-Bissau podendo ajudar na evolução cultural e económica do país (e aldeia) que o viu nascer.

© 2012 Kimi Djabaté à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo

nota: paisagem sonora incluída

curiosidade: O tema ‘Kodé’, do fonograma Karam, foi composto por Milton Gulli e gravado pelos Cacique´97, depois incluiu-se a kora do Brahima Galissa e a voz e balafon do Kimi Djabaté. Além do disco Karam de Kimi Djabaté, o tema acabou por figurar no disco de Cacique´97.

 

Recolha efectuada na zona do Chiado (em Lisboa)

Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões de Andrade

Fotografia: Alexandre Simões (Flapi)

Comment